Rua da Bahia 2003

Encharca de verrume a lentidão do sol.
Da velocidade enlatada nem o rótulo.
Com quantos piercings se faz um rosto?
Trôco pela bunda da menina.
Sem camisinha, duzentos.
Luz serpente sentina,
Lua esgarçada no filete de céu entre edifícios,
O contraponto vertical
Da espinhela de rua que deságua na Serra.

Olho táctil.
Letra de dois gumes.
Ouvido arregalado.
Procela da polifonia libertina.

O poeta é o espeto do cão.
Palavra-osso
No intento de abarcar o real
E comunicar labirintos.

 

 

os tios morreram de tuberculose na estrada do sertão.
do conflito rapadura versus megalópole o que vinga é a fome.
lábios de murici com farinha pouca – agruras
cavucam o cerne da pauta em movimento, fios de alta tensão.
repente-metal sob garoa. punks góticos putas escarlates.
ou eram travestis?
Edilamar nostalgia.
faz promessa de buscar irmã mais moça.
aprendeu a foda com um gringo. fez escola.
conjuga bem artesanato krenack com cocaína. trepa de uma nota só.
alhures, dólares não visitam a margem. carrapatos da urbe de gravata
e cachecol.
epilepsias domésticas. circo estrito.
cusparada do camelô na cara do cimento. arde. made in china.
gole de café doce ralo na esquina da Praça da Sé. não samba
de breck. liturgia evangélica profana prosternação. jesus custa caro.
slogan de chiclete.
riso aberto da boca de um Zeca sem dente. ele é um. o outro
enreda polifonia poética formato cd. intra-inter-hipertextual.
mza music. diversão vinte e oito reais.
arte não tem preço.
slogan da utopia
.


 

 

Renata Cabral é estudante de Letras

 
estilingue - literatura e arredores