as ruas em alta velocidade se estraçalham em esquinas
as estradas não têm quinas

as ruas e as estradas tentam todos os meios de despistar-se
em curvas, em pontes, em bifurcações

as ruas de mãos dadas
uma rua sem saída é uma rua só

há poemas pobres e planos como ruas

o poema é uma rua fantasma
que atravessa uma cidade fantasma
onde passam navios fantasmas
que deixam garrafas com manuscritos

e que manuscritos
enchem de amantes submarinos
as cidades em ruína

 

 

durmo de olhos abertos
meu irmão e seus brinquedos de guerra
minha irmã e suas guerras de brinquedo
disputo com os escorpiões meus sapatos
pendurei o espelho e caíram todos os quadros
vasculho cabides e gavetas
mas nada de meu
infiltra na solidão uma calma cotidiana
chove
moro em um morro forte onde uma árvore grande
[foi derrubada por um raio]
ter uma moto e acelerar sem temer a árvore atravessada
chuva que diz sim em clarões


 

 

Anderson Almeida está concluindo o curso de Letras e faz parte dos dois por cento de negros do ensino superior brasileiro.

 
 
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